quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Confundindo pandemia com pandemônio


por Michel Arbache *

Passado o princípio de pânico ante a pandemia da chamada "gripe suína", o quadro que temos hoje é bem mais tranqüilizador do que o alarmismo advindo dos primeiros casos no México. Pelo que atestam os especialistas, o vírus A (H1N1) não chega a ser tão nefasto como sugeria a sua estranheza inicial. Hoje, sabemos que tanto pelos sintomas quanto pelos óbitos causados pelas complicações da doença (principalmente a pneumonia), a "gripe suína" não é mais grave ou menos grave do que aquela gripe "tradicional" causada pelo vírus conhecido genericamente como "influenza sazonal". Isto, excetuando diversos outros tipos de vírus cuja proliferação é mais intensa no inverno.

Segundo informação do Ministério da Saúde, ainda é cedo para especular sobre os efeitos futuros (mutação, agressividade etc.) do novo vírus, mas o fato é que hoje o vírus A (H1N1) entrou numa espécie de "competição" com a influenza sazonal. Isto significa que, neste inverno de 2009, somadas a gripe comum e a "gripe suína", não temos, em termos relativos, um número muito maior de pessoas gripadas em comparação com o inverno de 2008.

Da mesma forma, neste ano, o número de mortes causadas pelas complicações da gripe não é, na comparação com 2008, algo alarmante. Vale frisar: "mortes causadas pelas complicações da gripe" não é o mesmo que dizer "mortes causadas pelo vírus da gripe". O vírus da gripe, diferente do que alguns setores da imprensa insistem em sugerir, não mata. O que pode matar, isto sim, é a desinformação.

ENFOQUE DRAMÁTICO

O que temos lido e assistido na imprensa nos últimos dias em relação à nova gripe são enfoques estritamente sensacionalistas que em nada ajudam a preocupação do Ministério da Saúde de transmitir informação e tranquilidade à população. Em vez disso, ocupam o noticiário nacional com as "mortes causadas pela gripe suína (sic)", a correria aos hospitais, a fragilidade do sistema de saúde pública e a revolta da população.

Não seriam tais notícias os fatores fomentadores de toda essa intranqüilidade e caos? É o caso de se questionar: qual a real necessidade de um cidadão comum ser informado que "a gripe suína está matando"? Não seria mais sensato "bombardear" a população com dicas sobre a higiene pessoal e hábitos alimentares saudáveis?

Ao que parece, andam confundindo "pandemia" com "pandemônio", com a prevalência deste último. Chegou-se ao cúmulo de o noticiário televisivo mostrar um estádio de futebol com quase toda a torcida usando máscaras para "proteção contra a gripe", como se residisse sensatez em tal providência... Até onde chegará, por parte da mídia, a propaganda da desinformação e estupidez? Cadê o papel social da imprensa?

Nos países mais desenvolvidos em que o A (H1N1) se espalhou, o clima que ora impera é de tranquilidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, um dos primeiros países em que a nova gripe chegou forte (quando então era inverno por lá), o noticiário foi muito mais informativo do que alarmista. Não houve, portanto, o enfoque dramático como este com que a imprensa brasileira tem tratado do caso. O resultado é que a população norte-americana, no geral, continuou levando uma vida normal a tal ponto que, hoje, não há qualquer notícia, qualquer vestígio traumático da passagem da "gripe suína" por lá.

* Professor, Juiz de Fora, MG; texto publicado no Observatório da Imprensa em 11/8/2009

Fonte: Revista Radis
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ALUNO EM ATIVIDADE: Com base no artigo acima, analise e reflita os motivos que levam a imprensa a se comportar com "alarde" na cobertura da gripe suína e por que seu "papel social fica perdido" em tal contexto. Poste o seu comentário.
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10 comentários:

Nina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Caroline Nardiane disse...

A Mídia pode ser sensacionalista quando assim deseja ser. Provocando por muitas vezes confusão e pânico como neste semestre presenciamos com o vírus da gripe A (gripe suína). A imprensa muitas vezes dificulta sua função e ao contrário de informar, ela alarma e causa pânico sobre um determinado assunto.
O vírus da gripe, por exemplo, tinha que ser divulgado de forma correta para que a população evite e iniba as complicações do vírus que podem levar ao óbito.
Ao invés de tranqüilizar, informar e ajudar o Ministério da Saúde no sentido de transmitir informação e tranqüilidade, a imprensa tem ocupado o noticiário com calamidades, mortes e rebelião da população.
Sendo assim, o caos na saúde somente terá tranqüilidade quando a imprensa realmente se dispuser a ser sensata, a fim de divulgar meios de precaução ao vírus da gripe A. É necessário ter uma imprensa mais informativa do que alarmista.

Aluna: Caroline Nardiane
turno: Noturno

Ludmila Lucas disse...

É notório que as pessoas se preocupam mais, quando percebem que a situação é séria. Ou quando o assunto é preocupante. Na cultura brasileira, tudo se faz de última hora, e assim, a população passou a se preocupar quando as pessoas começam a morrer. A mídia, ao invés de conscientizar, tem feito um grande alárdio com a situação, pois é sabido que informação educativa não vende, e em muitos casos não traz o retorno esperado. Assim, os meios de comunicação se aproveitam da situação, para promover uma grande confusão de idéias. No lugar de informação, tem levado a própria desinformação para a sociedade, e não por inocência...

Nina disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nina disse...

Retificando:
Informação não é produto, é serviço, ao invés de esclarecer a população, a mídia confunde. O bombardeio de informações desencontradas desinformam. Aquele que ler todas as notícias publicadas não é o melhor informado e sim o mais confuso.
A imprensa deve se preocupar com os efeitos de suas publicações. Pequenos substantivos fazem a diferença em um texto. Não morrem x pessoas de gripe A, morrem por complicações do vírus.
Existe uma linha (nada tênue) entre o jornalismo e a publicidade. Nós, comunicadores, ao contrário do que parece, não estamos vendendo nada. A audiência não é o nosso objetivo, pelo menos não deveria ser.
Apenas quando isto estiver claro para todos, teremos uma imprensa responsável.

Anônimo disse...

Vejo que realmente a imprensa está sendo sensacionalista quando se trata de gripe A. Ao invés de informar os cuidados que se deve ter para não ser infectado, a imprensa mostra a todo vapor que todos os dias uma pessoa morre infectado. Ontem(20) estive em uma audiência pública onde o Sindicato dos professores Particulares(Sinproep),solicitou o afastamento das profissionais gestantes , e o principal respaldo era que a imprensa estava sendo sensacionalista, mas também pude perceber a ignorância dos representantes que ali estavam quando se tratava do assunto gripe A, justamente pela falta de informação de prevenção que a mídia poderia oferecer, dar mais ênfase.Acredito que o papel social fica perdido, porque o próprio Ministério da saúde mostra que o número de infectados pelo vírus só aumenta diariamente, e não promovem propagandas para sensibilizar a população dos cuidados que devem ter para evitar o contágio. E por outro lado vejo também que este sensacionalismo se dar, porque as fontes da "saúde" informam que determinada pessoa morreu com sintomas ou contaminado pela gripe. E na maioria das vezes quando analisado o diagnóstico, este não é o principal motivo. Por esse motivo não culpo somente a imprensa por este sensacionalismo.

Jusciléia Santos disse...

Para que informar se o bom mesmo é alarmar, tragédias costumam dá audiência e esse é o principal interesse da mídia, lucrar. Os veículos de comunicação exploram a imagem humana no lado mais frágil, e com isso absorvem o máximo de público para aquele jornal. O papel social da imprensa já se perdeu a muito tempo, e isso nos leva a crer que eles exploram um fato, durante muito tempo, por falta de assunto, mesmo que isso venha provocar o caos na população.
No caso da nova gripe, o principal objetivo teria que ser de como prevenir, mas se houver prevenção não existirão pessoas jogadas nos corredores dos hospitais, gritando, chorando para que eles possam filmar. E prevenção não teria muito assunto, mas o número de mortos que a gripe faz, isso sim, meche com o interesse do público.
O jornalismo perdeu a seriedade para dar vazão a um espetáculo, um show teatral, o mesmo aconteceu com a morte de Michael Jackson e acontecerá com muitas outras notícias. Porém, o Brasil não é o único país que vive de tragédia em tragédia, a Europa também vivencia o mesmo problema, ao ponto de autoridades pedirem que a mídia parasse de provocar o pânico na sociedade, desnecessariamente, noticiando as mortes causadas pela gripe A.

Anônimo disse...

O principal

Adriana Régila disse...

O principal interesse da mídia é sem dúvida lucrar com a audiência, com informativos alarmistas.
Pois o que se vende são os enfoques traumáticos que se dá na imprensa brasileira, que se aproveitam da situação para lucrar com a audiência.
E muitas vezes a credibilidade e o bom senso da mídia se perdem diante tantas notícia, como a morte de um grande números de pessoas que foram infectadas pela "gripe suína", ao invés de mostrar como se previnir desse vírus, eles se preocupam em dar mais enfoque às tragédias ocorridas pelo vírus.
No entanto a sociedade continua fragilizada e desprotegida pelas notícias que são passadas através da mídia e pelo grande descaso do sistema de saúde pública.

Ana Lívia Mendes disse...

O pandemônio que se tornou a gripe suína no Brasil

A gripe é doença muito conhecida que atinge inúmeras pessoas por ano. Os brasileiros, por exemplo, já acostumados com o vírus, principalmente em épocas frias ou secas, tomam remédios por conta própria e normalmente não vão ao médico por esse motivo.

Quando jornais de todo o mundo começaram a noticiar o surgimento da gripe suína (H1N1), a população se alarmou. A imprensa, em sua maioria desinformada, tratou do assunto com extremo sensacionalismo, deixando as pessoas ainda mais preocupadas.
Só se falava em mortes e da facilidade em se contrair o vírus. Resultado: hospitais lotados de gente sem informação. O Ministério da saúde bem que tentou passar tranquilidade. Mas como competir com os jornais e a televisão dizendo o contrário?

O papel da imprensa não era provocar um pandemônio, falando do crescente número de óbitos e sim, ajudar a sociedade a melhorar a higiene pessoal, item necessário para evitar a gripe. Informar sem dramatizar poderia ter aliviado o trauma vivido nesses últimos meses em nosso país.