sábado, 12 de dezembro de 2009

Curso de Especialização em Jornalismo Científico e Tecnológico

O Curso de Especialização em Jornalismo Científico e Tecnológico pretende formar profissionais especializados no exercício da divulgação científica, capazes de elaborar produtos de comunicação para imprensa brasileira, empresas de tecnologia e inovação, divulgação de projetos de empreendedorismo, elaboração de políticas de comunicação para as assessorias de instituições de pesquisa.

O Curso de Especialização em Jornalismo Científico e Tecnológico terá duração de 24 meses, estando previsto o seu inicio para março de 2010 e seu término para dezembro de 2011. É uma realização da Faculdade de Comunicação da UFBA em colaboração com a Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da FACOM/UFBA e Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências do Instituto de Física da UFBA-UEFS. Tem ainda como parceiros a Associação Brasileira de Jornalismo Cientifico - ABJC, a FTC Salvador (Faculdade de Tecnologia e Ciências), Fapesb e a Fiocruz-Bahia.

  • O curso possui um total de 14 disciplinas teóricas e três oficinas práticas. Compreende, ainda, uma série de seminários onde serão debatidos temas sobre saúde, biotecnologia, meio ambiente, ciência, tecnologia e inovação e sua interface com as mídias.
  • As disciplinas teóricas serão ministradas a cada 15 dias com carga horária total de 24 h/a. As oficinas serão ministradas semanalmente com carga horária total de 48 horas.
  • A frequência às disciplinas e oficinas do Curso é obrigatória, tendo como valor mínimo 75% (setenta e cinco por cento) das aulas ministradas.
  • O aproveitamento, em cada disciplina do Curso, será medido e expresso segundo os sistemas de avaliação de cada professor (a) do curso.
  • O Curso oferecerá 40 (quarenta) vagas.
  • O curso será pago no valor de 380,00 reais mensais que serão investidos no pagamento de funcionários administrativos da secretaria, técnicos em manutenção de equipamentos, pessoal de apoio, técnicos especializados e compra de materiais necessários para o bom funcionamento do curso ao longo de 24 meses.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Uma pitada de imaginação para divulgar ciência



Uso da literatura na recriação do saber científico torna difusão mais eficaz, afirma livro
Publicado em 26/04/2004 | Atualizado em 09/10/2009
A linguagem superespecializada e procedimentos rigorosos adotados pelos pesquisadores tendem a afastar a ciência das pessoas. No entanto, ela é um produto social como outro qualquer. Para diminuir esse abismo artificial entreciência e sociedade, a física mexicana Ana María Sánchez Mora propõe em seu livrodivulgação da ciência como literatura unir conhecimento científico e imaginação a fim de tornar público tudo aquilo que é desenvolvido pela ciência.
No começo do livro, a autora, que trabalha num órgão de divulgação científica ligado à Universidade Autônoma do México, traça um histórico da difusão da ciência. A necessidadeda disseminação do conhecimento nasce no século 17, junto com a ciência moderna. Atéentão, a filosofia natural e o discurso científicoeram mais integrados à cultura geral. Gradualmente, os cientistas se afastaram da sociedade e a ciência, graças ao acentuado grau de abstração adquirido, se tornou assunto de especialistas.
Para a autora, é nesse momento que adivulgação da ciência ganha um contorno diferente da atividade científica, pois passa a ser necessário um esforço adicional para se comunicar. No entanto, assim como não existe uma 'receita' específica para se pintar um quadro ou escrever um romance, a autora não tira da manga um método infalível que ensine como fazedivulgação científica, mas acredita que uma pitada de poesia pode garantir o sucesso do texto de divulgação.
Para que o processo de distanciamento da ciência por parte do público leigo sereverta, Mora propõe uma reintegração da cultura científica à convivência social por meio de um tratamento literário dos textos de divulgação. A autora acredita que a concepção de divulgação científica como literatura garante a aceitação epermanência do conhecimento que se quer transmitir.
O livro, que faz parte da série Terra Incógnita , contém trechos de diversos textos considerados clássicos da divulgação científica, como citações da edição de 1916 d' A teoria da relatividade especial e geral escrito pelo gênio da física AlbertEinstein para explicar suas idéias ao leigo. A maior parte desses textos é feita por cientistas renomados, como o paleontólogo Stephen Jay Gould e o astrônomo Carl Sagan.
A autora deixa claro que os melhores divulgadores de ciência seriam os próprios cientistas, por terem um conhecimento mais profundo da área. Ela propõe que os pesquisadores recriem o conhecimento científico por meio da inserção do literário para que a divulgação seja mais eficaz.
O livro ressalta a importância da divulgação científica tanto para o progresso científico quanto para o esclarecimento da população. Essa reflexão sobre a produção da ciência e sua disseminação interessa tanto aos pesquisadores quanto aos divulgadoree historiadores que trabalhem nessa área.


divulgação da ciência como literatura 
Ana María Sánchez Mora (trad.: Silvia Pérez Amato)
Rio de Janeiro, 2003, Casa da Ciência / Editora UFRJ
Telefone: (21) 2542-7646 / 2295-0346
115 páginas - R$ 20,00
Liza Albuquerque 
Ciência Hoje On-line
26/04/04 

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Divulgação científica e responsabilidade

Especiais
Divulgação científica e responsabilidade
25/11/2009

Por Fábio Reynol, de Campinas

Agência FAPESP – A informação científica não deve servir para ameaçar ou para agradar o cidadão, antes de tudo deve torná-lo responsável pela ciência que seu país produz. A afirmação, de Miguel Angel Quintanilla, diretor do Instituto de Estudos da Ciência e da Tecnologia (Ecyt, na sigla em espanhol) da Universidade de Salamanca, Espanha, foi feita no 1º Foro Iberoamericano de Divulgação e Comunicação Científica, realizado de 23 a 25 de novembro na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Quintanilla apresentou os dois principais modelos teóricos utilizados para estudar a divulgação científica, “Déficit Cognitivo” e “Contextual”, e por fim mostrou a sua proposta batizada de “Perspectiva Cívica” por se basear nos princípios de cidadania.

O modelo de Déficit Cognitivo pressupõe uma sociedade dividida entre especialistas e leigos. Os primeiros detêm o conhecimento científico e os demais necessitam dessa informação especial. Segundo Quintanilla, trata-se de um modelo pragmático que preconiza que a sociedade deve conhecer a ciência a fim de apoiá-la.

Para o pesquisador, o modelo de Déficit é o responsável por distorções na comunicação da ciência. “Perguntas como: ‘o acelerador de partículas LHC pode gerar um buraco negro e engolir o planeta?’ não tem a ver com ciência e são fruto da divulgação científica que tem sido feita”, disse.

Segundo ele, o uso de metáforas inadequadas por publicações jornalísticas são causas desses desvios. Como exemplo, citou a expressão “a partícula de Deus”, que um periódico espanhol utilizou ao se referir ao LHC.

Já o modelo Contextual, pelo qual a informação sobre ciência deve apresentar os contextos social, econômico e político no qual a atividade científica está inserida, também traz problemas, de acordo com o professor espanhol. Ao apontar possíveis redes de interesses por trás de cada pesquisa, o modelo estimula um ceticismo exacerbado e propicia visões conspiratórias da ciência.

Como exemplo, citou o tema “alimentos transgênicos”, que suscitaria reações contrárias de pessoas que associam qualquer discurso favorável a técnicas de manipulação genética aos interesses de grandes corporações internacionais.

A proposta de Quintanilla é o modelo de Perspectiva Cívica, o qual tem por finalidade fortalecer a prática da cidadania ao suscitar no indivíduo a responsabilidade pela ciência que é produzida em seu país. Para tanto, é necessário que se conheçam as características intrínsecas da atividade científica e se saiba como esse tipo de conhecimento é produzido.

Como as outras duas teorias, essa proposição também tem problemas, como o efeito chamado “ciência na vitrine”, no qual ela é tratada como mercadoria de luxo a ser vendida pelas regras do mercado. Para Quintanilla, o conhecimento científico é um luxo, mas que deve ser colocado ao alcance de todos. “Devemos difundir, não vender esse conhecimento aos moldes do marketing”, afirmou.

Diferentemente do modelo de Déficit, que apresenta a informação científica como uma cascata que vem dos pontos mais altos (os cientistas) para atingir os vales (os leigos), a Perspectiva Cívica ensina a divulgação horizontal da ciência por meio da difusão por publicações jornalísticas, clubes de ciência, museus e escolas, entre outros. Para isso, a ciência tem que ser passada como uma ilustração da realidade que não deve ser deformada, mas representá-la de modo fiel.

“A ciência não contém todos os elementos da realidade, mas, assim como um mapa de uma cidade, reproduz com fidelidade alguns aspectos dessa realidade. Nós, divulgadores da ciência, devemos ser capazes de fazer bons mapas do conhecimento científico”, disse.
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ALUNOS EM ATIVIDADE: Destaque as principais características de cada um dos métodos (Déficit Cognitivo, Contextual, Perspectiva Cívica) acima abordados, apontando os prós e contras.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Reposição de aulas

Olá, alunos!

Somente agora pude postar as atividades referentes às reposições de aulas. São duas atividades relativas às duas aulas (noturno), certo?

Deverão ser enviadas por e-mail e impressas para o portfólio.

abraços,

Solange
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ATIVIDADE 1 - Referente à semana (26 a 30/10):

Entregar na próxima aula uma das opções a e b:

A) Elabore uma matéria sobre algum evento/pesquisa integrante da Semana de Ciência e Tecnologia e com fotos in loco, fontes etc.

B) Faça breve resumo sobre os sites WWF, MMA, INPA, EMÍLIO GOELDI, IBAMA indicando – tipo de site (público, privado, ong) / objetivo da instituição / tipo de conteúdo veiculado no site. E pesquisar (imprimir citando a fonte) em mídias alternativas e veículos especializados em jornalismo científico e ambiental (no mínimo três) matérias que dêem (falem sobre) noções/conceitos de sustentabilidade, ecossistemas, biodiversidade, ecologiam, consumo consciente, reciclagem. Cada matéria deverá abordar um conceito diferente. Ou seja, não pode trazer três matérias sobre consumo. ok?
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ATIVIDADE 2 - Referente à semana (2/11 a 06/11):

Faça uma dissertação sobre "Como o jornalismo pode (ou não) contribuir para que um indivíduo/comunidade saia do estado de vulnerabilidade e se transforme em ser autônomo, segundo os princípios éticos", para isso pesquise sobre: dignidade, vulnerabilidade, autonomia, empoderamento, consciência ética, bioética. Coloque as fontes pesquisadas no final do texto.
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Atividade em sala

Queridos,

Formulem, a partir do debate em sala e pesquisas, os conceitos de vulnerabilidade, autonomia e empoderamento.

Em dupla, postem nos comentários deste post a definição construída por vocês.


Em seguida, questionem-se sobre como o jornalismo pode contribuir nessa temática.


Não se esqueçam de citar as fontes no final da atividade.


Prof. Solange

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Atividade de reposição

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ATENÇÃO: O conjunto de exercícios relacionados abaixo será considerado como reposição de aula (matutino 7/10 e noturno 9/10).
Valerá pontuação e deve ENVIADO POR EMAIL (sollpp@gmail.com) até a próxima aula, colocando no assunto: Aluna Fulana - reposição dia X.


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Queridos alunos,
A atividade é dividida em três partes. Faça cada uma delas na sequência sugerida abaixo. Após fazer o exercício I, passe para o II e depois para o III. Tenho certeza que vocês irão se divertir e aprender um bocado com eles.
Cada exercício está linkado para atividade, na qual constam as explicações sobre o que vocês devem fazer. Leiam atentamente!
Abraços,
prof. Solange
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EXERCÍCIO I - Documentário "A História das Coisas"
EXERCÍCIO II - Cartilha de Consumo Sustentável
EXERCÍCIO III - Manual de Etiqueta Sustentável

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Publicar e compartilhar

Divulgação Científica
10/9/2009

Agência FAPESPA publicação de artigo em periódico científico é, tradicionalmente, a principal forma de divulgação dos resultados de uma pesquisa. Mas o processo de aprovação por parte dos avaliadores e editores, para ser bem feito, exige bastante tempo.

Na maioria das vezes são necessários meses, ou mais de um ano, entre o envio de um trabalho a uma revista, sua aceitação e as etapas necessárias para a publicação. Diante de tal cenário, o aumento tanto na capacidade de processamento de dados por computadores como na velocidade de transmissão da informação por conta da internet tem levado a uma necessidade de mudança no processo de publicação científica.

A capa da edição desta quinta-feira (10/9) da revista Nature destaca esses desafios indo além e voltando um pouco, ou seja, abordando tanto a pré como a pós-publicação. Dois artigos e um editorial abordam a importância de se compartilhar dados resultantes dos trabalhos de pesquisa ou mesmo dos processos de análise que ainda não reverteram em qualquer tipo de conclusão.

Os editores da revista destacam que dividir o conhecimento acumulado é essencial para o progresso da ciência, mas que os pesquisadores nem sempre liberam dados ou informações sobre materiais usados de pesquisa, mesmo após a publicação de seu trabalho.

“Cada vez mais frequentemente, o sucesso de um projeto de pesquisa é medido não apenas pelas publicações que produz, mas também pelos dados que torna disponível para uma ampla comunidade. Arquivos pioneiros como o GenBank têm demonstrado como esses dados legados podem ser poderosos para a geração de novas descobertas, especialmente quando informações de muitos laboratórios são combinadas e analisadas de maneiras que os pesquisadores originais não poderiam ter antecipado”, destaca a Nature.

Dois encontros realizados em maio – um em Toronto (Canadá) e outro em Roma (Itália) – reuniram dezenas de cientistas de áreas diferentes, mas com um objetivo comum: discutir a necessidade de compartilhar dados resultantes de projetos de pesquisa.

O grupo do Toronto International Data Release Workshop também ressalta as iniciativas na área de genômica. “Uma das lições do Projeto do Genoma Humano foi o reconhecimento de que divulgar dados amplamente antes da publicação pode ser de enorme valor para o empreendimento científico e levar a benefícios para a sociedade.”

“Esse é o caso especialmente quando há uma comunidade de cientistas que pode usar de forma produtiva os dados rapidamente divulgados – muito além do que os produtores dos dados poderiam fazer no mesmo tempo e também com propósitos científicos não previstos originalmente pelo projeto”, afirmam.

O grupo que se reuniu no Canadá propõe que os princípios da pré-publicação – ou seja, da divulgação de dados reunidos antes de qualquer publicação – presentes na genômica deveriam ser estendidos a outros grandes repositórios de informação em outras áreas da biologia e da medicina.

Os autores concordam que um período de carência possa ser permitido, caso seja solicitado, de modo a permitir que os produtores dos dados possam analisar e publicar resultados, mas que isso seja limitado a um ano.

O grupo também sugere uma série de práticas para pesquisadores, agências de fomento e editores de revistas a respeito do compartilhamento de dados. Os princípios estão disponíveis em um fórum on-line, que aceita contribuições de pesquisadores, no endereço http://tinyurl.com/lqxpg3 .

O grupo internacional de cientistas que usam camundongo como modelo de estudo, que se reuniu em Roma com editores e representantes de órgãos de fomento, relatou experiências acumuladas em seis décadas de compartilhamento de dados, comum aos pesquisadores da área.

Segundo eles, os dois maiores problemas para esse compartilhamento são as barreiras criadas pelos países para a transferência de material e a subutilização de repositórios de dados sobre camundongos, devido principalmente à falta de investimentos em tecnologia de armazenamento e de distribuição.

O grupo defende o uso de metadados e que organizações de fomento à pesquisa, periódicos e pesquisadores trabalhem em conjunto com o objetivo de desenvolver melhores usos de repositórios públicos de dados científicos.

Os artigos Prepublication data sharing e Post-publication sharing of data and tools podem ser lidos por assinantes da Nature em www.nature.com.

Relação entre ciência e jornalismo nem sempre é harmônica



Ouça Ciência & Saúde na CBN

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Aluno em atividade: Após ouvir a entrevista faça três notinhas com os temas abordados: bioética, saúde do trabalhador, obesidade e consumo infantil.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Fique por dentro...

OLá, turma!!

Quando somos jornalistas de determinado setor (política, economia, ciência, saúde etc.) precisamos acompanhar as notícias e novidades que acontecem no segmento, pois jornalista, antes de tudo, precisa estar bem informado.

Muitas organizações oferecem gratuitamente assinaturas de produtos informativos/jornalísticos eletrônicos ou/e impressos.

Então, abaixo anotei algumas sugestões para vocês se ligarem no que está rolando por aí em termos de ciência, tecnologia, saúde...

Leiam! Produzam! Sejam jornalistas conscientes!

Um abraço,

Profa. Solange
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Revista Radis

Jornal da Ciência

Agência Fapesp

Newsletter da Bireme

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ciência 'é notícia em jornais populares'

A ciência ocupa um espaço privilegiado em jornais brasileiros destinados a classes sociais mais baixas (C, D e E), juntamente com notícias sobre futebol, violência e fofoca, de acordo com os resultados de um estudo divulgados esta semana (26 de março).

Os jornais analisados foram Extra – um dos jornais brasileiro de maior circulação dominical, com tiragem de 428 mil – e O Dia, com 238 mil cópias no domingo.

A pesquisa foi realizada pelo jornalista científico Wagner Barbosa de Oliveira, em sua dissertação de mestrado no Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal de Rio de Janeiro.

Ele que observou que 73,8 % dos dias investigados em um período de seis meses entre 2005 e 2006 veicularam notícias de ciência.

Além disso, 86% das notícias sobre temas de ciência ocuparam a parte superior ou central da página, considerados nobres no espaço jornalístico.

Os temas de saúde foram os preferidos para os jornalistas, com 54,2% do total dos textos sobre esta área de conhecimento. Apenas três em cada 10 textos trataram de temas relacionados a pesquisas realizadas no país.

Um dado interessante observado por Oliveira foi a presença alta de fontes consideradas confiáveis.

"Um terço dos textos mencionaram explicitamente universidades e centros de pesquisa como fonte; as revistas científicas peer-review, inclusive em inglês, são mencionadas por 13,9% dos textos", afirmou Oliveira a SciDev.Net.

Entre as críticas que Oliveira faz à cobertura de ciência nestes diários estão a carga importante de sensacionalismo e o fato de a ciência é, em muitos dos textos, apresentada como se fosse uma 'verdade estabelecida' – ainda que jornais de elite também tragam estas características.

O estudo mostrou que os cientistas não escrevem para estes jornais. "Isto é uma expressão da pouca importância – do meu ponto de vista equivocada – que os cientistas dão a jornais populares, sem se dar conta de que as classes C, D e E representam 80% da população do país", afirmou.

Segundo Oliveira, que trabalha na Fundação Oswaldo Cruz, uma atuação maior dos cientistas nestes setores da imprensa poderia permitir difundir mais na população a imagem de que a atividade científica é um elemento importante para o desenvolvimento do país.


De acordo com Oliveira, a principal motivação do estudo foi o fato de que os meios de comunicação de massa são uma das fontes de informação em ciência e tecnologia mais importantes para o público geral nos países em desenvolvimento, pois uma parcela importante da população não freqüenta a escola ou completa apenas uma parte do ensino formal.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Sharon Dunwoody: quatro décadas de jornalismo científico

Sharon Dunwoody é uma veterana em divulgação científica nos Estados Unidos. Começou a trabalhar na área no final da década de 1960, inicialmente na prática da reportagem e da redação; depois, seguiu uma carreira acadêmica em jornalismo científico. Atualmente, é professora da Universidade de Winsconsin-Madison, onde também trabalha na formação de novos profissionais, ministrando aulas sobre jornalismo científico e ambiental.

Nesta entrevista concedida a Luisa Massarani, coordenadora do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida – que viajou aos Estados Unidos como bolsista Eisenhower Fellowships –, Dunwoody discute as mudanças ocorridas no jornalismo científico e na área de divulgação científica em geral ao longo das últimas décadas, defendendo que a área acadêmica cresceu.
Ela discute, ainda, resultados de um estudo internacional segundo o qual os cientistas afirmam que há mais benefícios que malefícios em comunicar temas de ciência, tanto do ponto de vista da legitimidade diante do público como no âmbito acadêmico – o estudo mostra que aqueles cientistas mais expostos à mídia são mais citados na literatura científica.

Dunwoody fala, nesta entrevista, sobre as estratégias que utiliza para capacitar profissionais para a prática e para a pesquisa em jornalismo científico. E vai direto ao ponto quando se discute se são os cientistas ou os jornalistas quem estão mais aptos a comunicar temas de ciência. “Eu prefiro pessoas inteligentes, seja qual for a sua formação”, afirma.
Edição: Catarina Chagas.

O que levou você a trabalhar com divulgação científica?

Tornei-me uma especialista em jornalismo científico por acaso. Enquanto estava na faculdade, estudei para ser jornalista, mas achava que trabalharia com política – tanto que cursei matérias de jornalismo e ciências políticas. Depois de me formar, em 1969, fui procurar trabalho num grande jornal da cidade, The Saint Antonio Light, e coincidentemente fui à redação um dia depois que o jornalista responsável pelas matérias de ciências tinha saído. O editor viu no meu portfolio a única matéria de ciências que eu tinha escrito e me colocou nessa editoria.

No começo, fiquei assustada, porque não tinha treinamento na cobertura de temas científicos, mas acabei adorando o trabalho. Poderia ter continuado como repórter de ciência pelo resto da vida, mas, nos anos 1970, depois de algumas mudanças de empregos, decidi começar um mestrado na Filadélfia e comecei a refletir sobre algumas questões que eu tinha como jornalista: quem lê o que eu escrevo? Alguém aprende alguma coisa com essas matérias? Quais os impactos desses textos no público? Nenhum editor no meu jornal tinha respostas para essas questões.

Resolvi, então, mudar o foco da minha carreira e tornar-me uma pesquisadora que buscava respostas para aquelas perguntas que o trabalho como jornalista havia suscitado. Concluí o doutorado em comunicação de massa na Universidade de Indiana em 1978 e emergi como acadêmica: meu primeiro emprego em universidade foi ainda no final dos anos 1970, a Universidade Estadual de Ohio. Desde 1981, estou na Universidade de Winsconsin-Madison, onde dou aulas de jornalismo científico e pesquisa em comunicação da ciência, além de manter linhas de pesquisa sobre esses temas.

Como são os cursos que vocês oferecem na área de jornalismo científico?

Trabalhamos em dois cursos: um sobre redação em ciências e outro para pensar em questões importantes sobre as quais os jornalistas científicos devem refletir, como a audiência, as relações entre cientistas e jornalistas, o papel das narrativas etc. Algumas pessoas se perguntam como é possível fazer um programa de mestrado em jornalismo científico com tão poucos cursos, mas a verdade é que todas as disciplinas que ensinamos na escola de jornalismo são relevantes para o jornalismo científico.

Jornalistas científicos precisam ter, em grande parte, as mesmas habilidades necessárias aos jornalistas de outras áreas. Nos cursos mais específicos, procuro me concentrar em habilidades como saber explicar as coisas. Embora isso seja importante para jornalistas de outras áreas, acho fundamental que um curso de jornalismo científico aborde isso.

Mas, de um modo geral, os alunos que saem daqui vão trabalhar em contextos muito diferentes, como meios de comunicação de massas, ONGs, empresas e outros. Então, o importante é que saiam do curso com fortes habilidades genéricas: como explicar, como entender as questões colocadas pelas fontes, como avaliar se as fontes estão corretas, como contar histórias, como atrair a atenção da audiência e oferecer-lhe informações importantes, como usar recursos multimídia e imagens para complementar as informações... Nada disso é exclusivo do jornalismo científico, mas são aptidões importantes para o trabalho.

Além, disso, também encorajamos os alunos a fazer cursos em outras escolas da universidade, de modo a complementar sua formação em outras áreas, como história, filosofia e sociologia da ciência.

Qual o perfil dos alunos?

Atualmente oferecemos treinamento para estudantes de graduação e, principalmente, para graduados que cursam mestrado profissional. Um detalhe interessante é que, sobretudo na pós-graduação, os alunos nem sempre vêm da área de jornalismo. Cerca de metade das turmas é formada por outros profissionais de variadas áreas: biólogos, químicos, antropólogos, zoólogos... Isso reflete um movimento que existe nos Estados Unidos de investir em pessoas com formação em ciências para serem divulgadores científicos. Eu tenho uma visão diferente: quero pessoas inteligentes, seja qual for a sua formação.

A meu ver, a instrução formal não prediz a qualidade do trabalho de um jornalista científico. Ter uma formação em ciências certamente não prejudica o trabalho, pode até oferecer vantagens diferenciadas. Mas o fator que mais influencia na qualidade do trabalho não é a instrução formal, e sim o número de anos em que o profissional realmente atuou como jornalista científico. Como em todas as profissões, a experiência é quem mais contribui para a qualidade do trabalho feito. Por isso, estou sempre aberta a pessoas com qualquer formação, desde que tenham motivação e desejem dedicar muita energia à difícil tarefa de escrever sobre ciências.

Como é a procura pelos cursos que vocês oferecem?

Nos Estados Unidos há um grande interesse por jornalismo científico como uma área profissional, sobretudo por parte dos cientistas. Eles estão começando a perceber que grande parte das pessoas que fazem doutorado em ciências não vai trabalhar em instituições de pesquisa. Os alunos se tornam professores, trabalham em indústrias privadas, administração de laboratórios, divulgação científica. Muitos estudantes de ciências nos Estados Unidos agora identificam a divulgação científica como uma possível alternativa à carreira científica.

Por outro lado, precisamos ser claros com os nossos estudantes em relação a como poderá ser seu futuro nessa área. Observo, por exemplo, que a maioria dos alunos que vêm para o nosso programa de jornalismo não está interessada em jornalismo científico nos meios de comunicação de massa, mas querem trabalhar em ONGs, em campanhas de informação, querem mudar o mundo.

Como é a estrutura formal do curso?

Temos um sistema no qual os alunos do mestrado profissional devem cursar 30 créditos. Sugerimos que eles dividam esses créditos em três grupos. O primeiro é de cursos que ajudem a desenvolver um grupo específico de habilidades, como escrita, programação visual, campanhas de informação etc. O segundo grupo é mais voltado à reflexão sobre o campo de trabalho, incluindo disciplinas sobre ética, história do jornalismo e da divulgação científica, aspectos legais do jornalismo, efeitos das mensagens e outros. Por fim, um último grupo de créditos deve ser dedicado a sair da área de comunicação e pegar cursos para adquirir conteúdo em campos específicos do conhecimento científico.

Como é um programa de dois anos, o aluno não se torna um especialista em nenhuma dessas áreas. Nenhum programa, sozinho, pode oferecer, ao mesmo tempo, todas as habilidades necessárias para trabalhar com jornalismo científico na internet, na TV e em todos os outros meios. Nosso objetivo, então, é oferecer alguns conhecimentos fundamentais e, mais importante, a habilidade de aprender as diferentes facetas da divulgação científica uma vez que os alunos decidem por que caminho seguir em seus trabalhos.

Além desse treinamento mais profissional, você falou que havia um treinamento para a pesquisa em divulgação científica. Como isso se dá?

No mestrado, nos concentramos no desenvolvimento de ferramentas que possibilitem ao estudante realizar seu projeto de pesquisa. Se ele está interessado em pesquisa qualitativa, por exemplo, é encaminhado para cursos afins, como etnografia e leitura crítica de textos. Se deseja, por outro lado, realizar pesquisas quantitativas, pode cursar disciplinas de estatística, métodos experimentais, análise de dados etc. Ao fim do curso, o aluno escreve uma dissertação.

Esta etapa é um pré-requisito para quem deseja fazer nosso curso de doutorado, no qual o estudante deve cursar 65 créditos de disciplinas e também estar engajado em pesquisas. Embora os alunos sejam bem-vindos para trabalhar qualquer conteúdo em divulgação científica, pedimos que eles realmente se especializem em uma área específica, e então escolham junto com o orientador os cursos mais adequados às suas necessidades. Como a maioria das disciplinas que nossos alunos fazem estão fora da escola de jornalismo, é muito bom que estejamos numa universidade com pesquisas em várias áreas.

Além de ministrar aulas, parte do meu trabalho é orientar os alunos em grupos de pesquisa informais. É aí que se dá o verdadeiro treinamento de pesquisa: em trabalhos de verdade, que depois vamos publicar. Um de nossos grupos, por exemplo, fez uma análise de conteúdo complexa da cobertura da mídia sobre pesquisa com células-tronco. Outro, um levantamento nacional sobre a percepção pública em nanotecnologia e suas implicações sociais. A nanotecnologia também é tema de outros estudos, relacionados à cobertura da imprensa americana sobre o tema e a como diferentes estratégias de narração podem afetar o que as pessoas aprendem sobre isso.

Todos esses estudos são feitos pelos alunos de maneira informal, mas eles ficam bastante engajados, e esta é a chave para a alta qualidade dos treinamentos de doutorado que oferecemos aqui.

Esses trabalhos informais são diretamente ligados à tese dos alunos?

Eles podem ser – e este é o caso de muitos. Uma grande parte dos alunos planeja usar parte dos dados gerados nessas pesquisas em suas teses. Mas também temos alunos que participam desses grupos e depois desenvolvem seus próprios experimentos de forma independente.

Você acompanha seus alunos depois que eles acabam o curso? Tem alguma idéia de quantos deles continuam trabalhando na área?

Tentamos fazer isso, mas é muito difícil. A escola de jornalismo faz uma pesquisa sistemática dos alunos para tentar descobrir onde eles estão, e esses resultados nos ajudam a montar nossa grade curricular.

Também tentamos monitorar o campo de trabalho como um todo, pesquisamos onde estão as vagas de empregos, mas é difícil prever o que a próxima geração de jornalistas estará fazendo.

E quanto aos alunos que treinam para a pesquisa, quais suas perspectivas de trabalho?

Como a comunicação é uma área muito popular nas universidades americanas, não temos problemas em colocar nossos alunos no mercado, como professores universitários. Esta ainda é uma área em crescimento.

Da época em que você começou a trabalhar com divulgação científica até hoje, houve mudanças significativas nesse campo de trabalho?

Houve enormes mudanças, de todos os tipos. Uma grande mudança é que a divulgação científica, na comunidade acadêmica dos Estados Unidos, deixou de ser uma área na qual trabalhavam pouquíssimos pesquisadores; agora a comunidade é maior. Embora a comunicação seja uma área popular de pesquisa aqui, a comunicação em ciências ainda é uma área pequena, mas tem crescido nos últimos 30 anos. Atualmente, em cada grande universidade há alguém trabalhando nessa área.

Outra coisa que está mudando – e facilitando o crescimento dessa comunidade – é que nós agora temos revistas especializadas nesse campo, como Public Understanding of Science e Science Communication, além de outros periódicos de outros países. Tudo isso é recente, mas dá uma idéia de quanto conhecimento nós produzimos.

Além disso, a qualidade da formação e geração de saberes em divulgação científica oferecida hoje em vários países é muito maior do que 25 ou 30 anos atrás. Nosso campo está amadurecendo e cada geração é melhor do que a geração que veio antes.

Por fim, no mundo profissional, grandes mudanças estão acontecendo agora. A natureza do jornalismo – e, por conseqüência, do jornalismo científico – está começando a mudar. Ao menos nos Estados Unidos, o jornal, como um meio de comunicação de massa, está em declínio. Em algumas décadas, teremos grandes cidades sem nenhum jornal. Muitos jornais importantes estão fechando.

Mas isso é porque as pessoas não estão lendo ou porque elas têm acesso às notícias pela Internet?

Um pouco de cada. Um grande número de leitores está buscando a internet, mas também há sinais de mudança na maneira como as pessoas estão monitorando o que está ao seu redor. Há muitas pessoas, jovens adultos, que não observam noticiários de maneira regular. Se eles escutam sobre algo que está acontecendo, eles podem buscar no Google para encontrar mais sobre isso, mas não lêem diariamente os jornais nem vêem noticiários televisivos. Embora esses jovens estejam na internet o tempo todo, não acho que seja para ler notícias.

Agora, a questão séria que nos fazemos é: estaria o jornalismo acabando? Não estou falando só do jornalismo científico, mas do jornalismo num sentido mais genérico. Essa é uma boa pergunta para nos fazermos, porque precisamos saber para que estamos treinando nossos alunos.

Você poderia falar um pouco dos resultados da sua pesquisa sobre como a mídia de distintos países aborda as células-tronco?

Foi um estudo muito interessante, com financiamento do governo alemão, em que avaliamos percepções dos cientistas nos cinco países que identificamos como os mais importantes em pesquisa e desenvolvimento – Estados Unidos, Alemanha, França, Grã-Bretanha e Japão. Em cada país, criamos grupos de pesquisa para conduzir o levantamento, que tinha como objetivo entender o engajamento dos cientistas nas atividades de comunicação.

Como não poderíamos avaliar todas as áreas, escolhemos dois temas relacionados às ciências da vida, que tendem a ter mais cobertura da mídia do que outras. Escolhemos epidemiologia porque muito da pesquisa nessa área tem clara aplicação em problemas enfrentados pela sociedade, o que nos fez pensar que cientistas dessa área teriam grande compromisso com a divulgação e o jornalismo. Além disso, pegamos as células-tronco por ser um campo crescente dentro das ciências básicas e uma área polêmica, controversa, o que poderia influenciar a postura dos cientistas em relação à divulgação.

Vimos que os cientistas desses dois campos se comportavam de forma muito semelhante e que, embora houvesse diferenças entre países, essas diferenças eram pequenas. Essa pesquisa confirmou uma coisa que eu já pensava: esses cientistas estão em contato regular com a imprensa. Em todos os países, cientistas mostraram que freqüentemente interagiam com jornalistas, muito mais do que as pessoas acham que eles o fazem.

Além disso, descobrimos algo novo. Os cientistas reportaram que obtêm mais benefícios que malefícios desse relacionamento com a imprensa. Historicamente, não era assim. Os cientistas costumavam dizer – e muitos ainda dizem – que o contato com jornalistas produz maus resultados. Mas muitos estão começando a perceber que há pontos positivos nessa interação com os jornalistas.

Por exemplo, nos Estados Unidos há evidências de que a visibilidade pública não apenas aumenta a percepção de legitimidade de uma pesquisa na população leiga – inclusive entre os formuladores de políticas, o que ajuda a conseguir mais fundos –, como também aumenta a legitimidade frente aos outros cientistas.
Alguns estudos mostraram que cientistas que com visibilidade pública são, inclusive, mais citados na literatura cientifica. De alguma maneira, a ciência também usa os meios de comunicação de massa para decidir o que é importante em seus campos de atuação. Então, a visibilidade pública traz enormes benefícios aos cientistas.

O que nossa pesquisa mostrou é que os cientistas finalmente perceberam isso e que agora estão aprimorando sua relação com a imprensa e o público, investindo em treinamento para isso. Nesse contexto, cria-se um ambiente de trabalho diferente para os jornalistas: os cientistas não fogem mais deles; ao contrário, estão interessados nessa interação.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Aviso sobre aulas desta semana

Olá, turma!

Conforme avisei em sala, estou viajando amanhã para um curso de jornalismo científico em Recife. Com certeza trarei mais conhecimentos para as nossas aulas. Então, vocês estão dispensados nos dias 2 e 4 de setembro.
Aproveitem o tempo para prepararem uma bela apresentação para a semana seguinte, certo?

abraços,


Solange

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O veneno está na mesa

Artigo científico - Psoríase

Anais Brasileiros de Dermatologia

versão impressa ISSN 0365-0596
An. Bras. Dermatol. vol.84 no.3 Rio de Janeiro jul. 2009
doi: 10.1590/S0365-05962009000300005


INVESTIGAÇÃO



Qual é o tipo de fototerapia mais comumente indicada no tratamento da psoríase? UVB banda estreita e PUVA: comportamento da prescrição*





Ida Duarte-I;
José Antonio Jabur da Cunha-II;
Roberta Buense Bedrikow-III;
Rosana Lazzarini-IV

I-Professora Doutora da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo. Responsável pelo setor de alergia e fototerapia da Clínica de Dermatologia, Santa Casa de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil
II-Especializando do Departamento de Dermatologia, Santa Casa de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil
III-Médica assistente da Clínica de Dermatologia, Santa Casa de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil
IV-Chefe da Clínica de Dermatologia, Santa Casa de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil



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RESUMO

FUNDAMENTOS: Formas moderada e grave de psoríase requerem fototerapia e/ou medicações sistêmicas. Tanto UVB banda estreita quanto fototerapia UVA com psoralênicos (PUVA) podem ser utilizadas no tratamento dessas formas de psoríase, sendo comprovada a efetividade de ambas as terapias.
OBJETIVOS: Avaliar as indicações de dois tipos de fototerapia no tratamento da psoríase refratária à terapia tópica: UVB banda estreita e PUVA.
MÉTODOS: Entre janeiro de 2006 e dezembro de 2007, os pacientes encaminhados a dois serviços de fototerapia foram incluídos neste estudo. Dados sobre os casos e tipos de prescrição foram coletados de maneira retrospectiva.
RESULTADOS: Dentre os 67 pacientes estudados, 51 (76%) foram tratados com UVB banda estreita. As razões para sua indicação foram presença de psoríase em gotas (22%), presença de finas placas (15%), uso de drogas fotossensibilizantes (15%), idade abaixo de 20 anos (9%), fototipo I (9%) e doença hepática (6%). Os 16 (24%) restantes foram tratados com PUVA. A principal indicação dessa terapia foi gravidade da doença (15%), seguida de fototipo IV (9%).
CONCLUSÕES: As prescrições de UVB banda estreita excederam as de PUVA devido ao menor número de contraindicações, menor possibilidade de efeitos colaterais, e ainda por ser uma opção mais prática.

Palavras-chave: Fototerapia; Psoríase; Raios Ultravioleta; Terapia PUVA


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INTRODUÇÃO

Psoríase é uma doença crônica, inflamatória e recorrente, com manifestações clínicas e gravidade variáveis. Caracteriza-se principalmente por eritema, infiltração e descamação da pele. Estima-se que 2% a 3% da população mundial seja afetada pela doença.1-3

Terapias tópicas costumam ser suficientes no controle da psoríase de intensidade leve; porém, as formas moderada e grave requerem outras opções terapêuticas, como fototerapia e medicações sistêmicas.4-6

A luz UV tem propriedades anti-inflamatória, antiproliferativa e imunossupressora.7,8 A radiação UV é dividida em UVA (400 – 320 nm), capaz de alcançar a epiderme e derme profunda, UVB (320 – 290 nm), que alcança somente a epiderme, e UVC (290 – 200 nm), que não chega à superfície terrestre. Os raios UVA são subdivididos em UVA I (400 – 340 nm) e UVA II (340 – 320 nm), e a faixa de UVB entre 311 e 312 nm é chamada de UVB banda estreita (UVB "narrow band" – UVB NB). O uso deste tipo de UVB no tratamento da psoríase teve início na década de 80, quando as primeiras lâmpadas de UVB NB foram desenvolvidas (Philips, Eindhoven, Holanda). 7,9 Subsequentemente esse método provou ser efetivo no controle da psoríase, utilizando-se de doses suberitemogênicas.10 Estudos mostraram que UVB NB pode ser mais efetiva que UVB banda larga no tratamento da psoríase,9,10 consequentemente a escolha atualmente deve ser feita entre UVA e UVB NB.

Tanto UVB NB quanto PUVA podem ser utilizadas no tratamento de formas moderada e grave da psoríase, e vem sendo comprovada a efetividade de ambas as terapias.6,11,12 Dessa forma a seleção entre uma ou outra modalidade de fototerapia deve basearse em outros fatores além da eficácia, incluindo segurança, resposta prévia ao tratamento, gravidade da psoríase e adesão ao tratamento.6

O objetivo deste estudo foi avaliar a frequência com que PUVA e UVB NB são prescritas a pacientes com diagnóstico de psoríase que não apresentaram resposta ao tratamento tópico.



MATERIAIS E MÉTODOS

Entre janeiro de 2006 e dezembro de 2007, pacientes com psoríase refratária aos tratamentos tópicos foram referidos para dois serviços de fototerapia (um hospital universitário e uma clínica particular, ambos com a mesma equipe médica, mesmo protocolo de tratamento e mesmos equipamentos) e incluídos neste estudo retrospectivo. Todos os pacientes receberam indicação de UVB NB ou PUVA.

Foram excluídos do estudo aqueles que estivessem usando qualquer terapia combinada (tópica e/ou sistêmica), ou qualquer medicação sistêmica para psoríase nos dois meses que antecederam o início da fototerapia.

Dados demográficos foram retrospectivamente coletados das fichas médicas dos pacientes sob fototerapia. Foram coletados ainda dados quanto ao tipo de pele (segundo classificação de Fitzpatrick),13 tipo de psoríase (vulgar, em gotas ou eritrodérmica),14 gravidade da doença, tipo de fototerapia prescrita (PUVA ou UVB NB) e evolução clínica.

As razões preponderantes na escolha do regime de fototerapia foram registradas em prontuário médico e baseadas na idade do paciente, fototipo cutâneo, gravidade da doença, comorbidades e uso de medicações sistêmicas. Os critérios utilizados nos serviços de fototerapia estudados foram: UVB NB como primeira escolha em indivíduos com menos de 20 anos de idade, nos portadores de psoríase gutata ou em finas placas e nos casos com gravidade leve para moderada. Fototerapia PUVA foi primeira opção nos casos extremos com placas grossas e pele tipo IV ou VI. PUVA foi contraindicada nos pacientes com comprometimento hepático ou em uso de drogas fotossensibilizantes; nesses casos a severidade ou fototipo cutâneo não foram considerados, e indicou-se UVB NB.

Todos os pacientes foram submetidos à fototerapia com duas sessões por semana utilizandose equipamento profissional (Prolumina Fototerapia, São Paulo, Brasil: cabine UVA com 48 lâmpadas Philips Sunlamp 100 W-R ou cabine UVB NB com 42 lâmpadas banda estreita Philips TL 100 W/01).



RESULTADOS

Sessenta e sete pacientes foram tratados durante o período do estudo: 37 homens (55,2%) e 30 mulheres (44,8%), com idades que variaram de 12 a 87 anos e média de 39 anos de idade. Seis deles (9%) foram classificados como pele tipo I de Fitzpatrick, 35 (52,2%) como tipo II, 15 (22,4%) como tipo III e 11 (16,4%) como tipo IV.

Apenas um paciente (1,5%) apresentava psoríase eritrodérmica, enquanto 16 (24%) tinham psoríase em gotas e 50 (74,5%) tinham psoríase vulgar com gravidades variáveis.

Dentre os 67 pacientes estudados, 51 (76%) foram tratados com UVB NB. As razões para indicação de UVB NB estão indicadas na tabela 1 e distribuíramse da seguinte forma: presença de psoríase em gotas (22%), presença de finas placas (15%), uso de drogas que interferem na fotossensibilidade (15%), idade menor que 20 anos (9%) fototipo I (9%) e presença de hepatopatia associada (6%). Os 16 (24%) restantes foram tratados com PUVA. A principal indicação desse tipo de terapia (Tabela 2) foi gravidade da doença (10 pacientes, 15%), seguida pela presença de pele tipo IV (6 pacientes, 9%). A figura 1 ilustra como se deu a prescrição da fototerapia nos pacientes avaliados.



DISCUSSÃO

Muitos estudos têm comparado a eficácia das terapias UVB NB e PUVA na psoríase moderada a grave.15-17 A heterogeneidade considerável entre esses estudos no que diz respeito à gravidade da doença, subtipos de psoríase, fototipo cutâneo, regimes de fototerapia e métodos utilizados na mensuração dos resultados tornaram difícil a condução de uma revisão sistemática consistente. Embora PUVA venha sendo reportada como mais efetiva que UVB NB no controle da psoríase,4,6,9 uma abordagem terapêutica padronizada para todos os casos de psoríase moderada a grave ainda não foi estabelecida.4,6

Como se sabe, a psoríase é uma doença de distribuição global que acomete ambos os sexos e ampla faixa etária.1,2 Na amostra estudada, de fato, ocorreu certa homogeneidade quanto à distribuição por sexo; ao mesmo tempo a idade dos pacientes tratados com fototerapia foi bastante ampla, partindo da segunda até a nona década de vida. Idade e sexo não são fatores limitantes na indicação de fototerapia.15

Em nossos serviços de fototerapia, UVB NB foi mais frequentemente indicada que PUVA (76% e 24% respectivamente) para tratamento de pacientes com psoríase. Foi observado que muitos pacientes com psoríase apresentavam outras comorbidades que contraindicaram o tratamento com PUVA. Pacientes com envolvimento hepático ou em uso de medicações, como as utilizadas no tratamento da hipertensão, diabetes ou ainda anti-inflamatórias, receberam indicação de UVB NB devido à maior segurança nesses casos,15,17 considerando que algumas drogas podem aumentar a sensibilidade individual aos raios UV. Esse foi o caso de 28% dos pacientes tratados em nossa amostra: em 19% prescreveu-se UVB NB devido ao uso de drogas fotossensibilizantes e em 9%, devido a doença hepática.

Para pacientes jovens, é indicada UVB NB por representar menor risco de induzir câncer de pele em longo prazo.6,18 No grupo estudado, 12% dos pacientes tiveram como primeira escolha UVB NB por apresentarem idade abaixo de 20 anos. Isso se torna importante quando se considera o risco de câncer como resultado da exposição cumulativa de radiação UV, associado à alta expectativa de vida desses pacientes.

Além desses aspectos, UVB NB é mais frequentemente indicada que PUVA devido à praticidade de sua aplicação.6 A possibilidade de usar essa fototerapia na ausência de prescrição prévia de psoralênicos torna mais fácil a aceitação do tratamento por parte do paciente, uma vez que esses medicamentos muitas vezes trazem náuseas e outros efeitos colaterais. O uso de outras medicações pode ser mantido durante o tratamento com UVB NB. Entre os pacientes avaliados, PUVA foi mais indicada para pacientes com placas espessas e pele tipo IV a VI (classificação de Fitzpatrick).

Embora o objetivo deste estudo não tenha sido avaliar efetividade terapêutica, mas sim compreender como se comporta a prescrição da fototerapia na psoríase, foi possível observar que ambas as terapias foram efetivas. A média do PASI inicial nos pacientes tratados com PUVA foi de 14,9; no grupo tratado com UVB NB, foi de 10,4. Dentre os pacientes tratados com PUVA, o índice PASI 75 foi obtido em 75% dos casos, e bons resultados foram também alcançados em 80,4% dos pacientes tratados com UVB NB. A diferença entre os grupos não foi estatisticamente significante (p <>
CONCLUSÃO
As prescrições de UVB NB excederam as de PUVA devido ao menor número de contraindicações e menor possibilidade de efeitos colaterais, e ainda por ser uma opção mais prática. Visto que tanto PUVA quanto UVB NB provaram ser efetivas no controle da psoríase, a opção por cada tratamento deve levar em conta a gravidade da doença, tipo de pele, uso de medicações e características do paciente. Uma avaliação clínica individualizada deve guiar a indicação entre um ou outro tipo de fototerapia.
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15. Yones SS, Palmer RA, Garibaldinos TT, Hawk JL. Randomized double-blind trial of the treatment of chronic plaque psoriasis: efficacy of psoralen-UV-A therapy vs narrowband UV-B therapy. Arch Dermatol. 2006;142:836-42 [ Links ]
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17. Ibbotson SH, Bilsland D, Cox NH, Dawe RS, Diffey B, Edwards C, et al. An update and guidance on narrowband ultraviolet B phototherapy: a British Photodermatology Group Workshop Report. Br J Dermatol. 2004;151:283-97 [ Links ]
18. Pasker-de Jong PC, Wielink G, van der Valk PG, van der Wilt GJ. Treatment with UV-B for psoriasis and nonmelanoma skin cancer: a systematic review of the literature. Arch Dermatol. 1999;135:834-40 [ Links ]
Endereço para correspondência: Ida Duarte Rua Monte Alegre, 523/101 05014 000 São Paulo - SP Tel./fax: 11 38714018 E-mail: idaduarte@terra.com.br Recebido em 26.02.2009.
Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 04.03.09.
* Trabalho realizado no Departamento de Dermatologia, Santa Casa de São Paulo – São Paulo (SP), Brasil.
Conflito de interesse: Nenhum
Suporte financeiro: Nenhum
Como citar este artigo: Duarte I, Cunha JAJ, Bedrikow RB, Lazzarini R. Qual é o tipo de fototerapia mais comumente indicada no tratamento da psoríase? UVB banda estreita e PUVA: comportamento da prescrição. An Bras Dermatol. 2009;84(3):244-48.
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Aluno em atividade: Em duplas façam uma matéria jornalística sobre o artigo científico acima.

Artigo científico - Influências nutricionais na psoríase

Anais Brasileiros de Dermatologia
versão impressa ISSN 0365-0596
An. Bras. Dermatol. vol.84 no.1 Rio de Janeiro jan./fev. 2009
doi: 10.1590/S0365-05962009000100016
COMUNICAÇÃO



Influências nutricionais na psoríase*





Maria Lúcia Diniz Araujo-I;
Maria Goretti P. de A. Burgos-II;
Isis Suruagy Correia Moura-III

I-Mestranda em Nutrição pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialista em Nutrição Clínica pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - Recife (PE), Brasil
II-Doutora em Nutrição. Especialista em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (SBNPE). Especialista em Nutrição Clínica pela Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). Nutricionista da Clínica de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HCUFPE). Nutricionista pesquisadora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - Recife (PE), Brasil
III-Nutricionista residente da Clínica de Dermatologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HCUFPE) - Recife (PE), Brasil



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RESUMO

A psoríase é uma doença inflamatória de pele, mediada por células T, hereditária, que sofre influência ambiental. Ingestão elevada de ômega-3, jejum, dietas hipocalóricas e vegetarianas mostram efeitos benéficos. Alguns pacientes que apresentam anticorpos antigliadina IgA/IgG, com sensibilidade ao glúten, melhoram após a retirada deste. O calcitriol é usado no tratamento tópico. Ingestão de álcool pode exacerbar a doença. Neste trabalho, analisam-se fatores dietéticos e descrevem-se seus benefícios na psoríase.

Palavras-chave: Ácidos graxos ômega-3; Antioxidantes; Bebidas alcoólicas; Dieta; Glúten; Psoríase


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INTRODUÇÃO

A psoríase é doença inflamatória crônica da pele, mediada por células T, caracterizada por lesões eritematoescamosas, aumento na proliferação celular e padrões anormais de diferenciação dos queratinócitos1,2. Apresenta prevalência mundial estimada em 2%1,3, variando entre 0,6% e 4,8%, sem predileção por sexo nem por faixa etária, sendo mais comum entre a terceira e a quarta décadas, no sexo feminino e em indivíduos com história familiar4,5.

As causas são desconhecidas, porém uma predisposição genética3, associada a fatores ambientais como fumo, álcool, alimentação, infecção, drogas e eventos estressantes, constitui uma explicação etiológica plausível3.

A prevalência e a gravidade da psoríase têm se mostrado diminuídas durante períodos de jejum. Dietas hipocalóricas levam à melhora dos sintomas2 e podem ser importantes fatores adjuvantes na prevenção e no tratamento do tipo não-pustular moderado4.

Apesar de vários mecanismos serem discutidos, a causa direta desses efeitos positivos nos sintomas da doença ainda é desconhecida2. A explicação mais importante é, provavelmente, a diminuição na ingestão do ácido araquidônico (AA), que resulta na menor produção de eicosanoides inflamatórios. Durante o jejum, ocorre redução na ativação das células TCD4 e elevação no número e/ou na função da interleucina 4 (citocina anti-inflamatória)1 e a restrição calórica leva à redução do estresse oxidativo1.

Dietas vegetarianas podem ser benéficas em todos os pacientes com psoríase, visto que há ingestão diminuída de AA e conseqüente redução na formação de eicosanoides inflamatórios. Concentrações elevadas de AA e de seus metabólitos pró-inflamatórios foram observadas em lesões psoriáticas, assim como em outras desordens autoimunes e inflamatórias. Uma opção terapêutica na psoríase é a substituição do AA por um ácido graxo (AG) alternativo, especialmente o eicosapentaenoico (EPA), que pode ser metabolizado pelas mesmas vias enzimáticas do AA2,5.

Quanto ao efeito da suplementação oral de ômega-3 nessa enfermidade, os resultados são conflitantes e não são claros em relação à dose a ser utilizada5. A maioria das pesquisas apresenta efeitos positivos; entretanto, resultados de testes randomizados e controlados são menos efetivos2. Apesar dos resultados ainda inconsistentes, pode-se recomendar ingestão de peixes ricos em ômega-3. Em pacientes com psoríase agudizada, infusões parenterais de ômega-3 podem ser benéficas2.

Estudos recentes evidenciaram uma associação entre a doença celíaca (DC) e a psoríase6; todavia, tal relação ainda é bastante controversa, uma vez que os dados são escassos6. Quanto à dieta isenta de glúten, sabe-se que poderá melhorar as lesões de pele, mesmo em pacientes sem DC, mas com anticorpos antigliadina IgA e IgG7. Dados da literatura ainda são escassos na explicação dos mecanismos envolvidos na associação entre DC, psoríase e dieta isenta de glúten nas lesões de pele. Várias hipóteses têm sido propostas, como alteração na permeabilidade intestinal, mecanismos imunes e deficiência de vitamina D6.

Estresse oxidativo e formação elevada de radicais livres têm sido relacionados à inflamação da pele na psoríase2. Estudos mostram que indivíduos com essa doença apresentam concentrações elevadas de malonilaldeído, um marcador da peroxidação lipídica, e estado antioxidante prejudicado, com níveis diminuídos de β-caroteno, α-tocoferol e selênio7.

O selênio apresenta propriedades imunomodulatórias e antiproliferativas. A literatura indica que pacientes com desordens inflamatórias de pele, melanoma maligno e linfoma cutâneo de células T apresentam baixas concentrações desse elemento8. Seu baixo nível pode ser fator de risco para o desenvolvimento da psoríase, sendo poucos os trabalhos publicados7. Níveis diminuídos de selênio relacionam-se com a gravidade da doença e podem ocorrer devido à baixa ingestão alimentar ou à excessiva descamação da pele8.

Dentre outros fatores que podem elevar o estresse oxidativo e reduzir os antioxidantes naturais, em indivíduos com história da doença há mais de três anos, relata-se a ingestão alcoólica elevada e o fumo ativo e/ou passivo8. Homens jovens e de meia-idade apresentam riscos com ingestão de álcool enquanto que, em mulheres, não é fator de risco, mas agrava o quadro clínico9. Pacientes psoriáticos devem evitar a ingestão de álcool, principalmente, nos períodos de exacerbação, quando ocorre elevado risco de cirrose hepática associado com metotrexato ou outros tratamentos hepatotóxicos2.

O calcitriol e seus análogos exercem efeitos antiproliferativos e pró-diferenciativos, o que justifica a sua importância na psoríase. Deve-se considerar suplementação oral da vitamina D em pacientes com psoríase que não fazem o tratamento tópico com a vitamina2,10.

Finalmente, pode-se dizer que a dieta é fator importante na patogênese da psoríase e que, apesar de os resultados da literatura com suplementação oral de óleo de peixe serem inconsistentes, os pacientes podem ser orientados a ingerir peixes ricos em ômega-3, por seus benefícios no quadro clínico. A pacientes hospitalizados com doença aguda sugerem-se infusões parenterais de ácido graxo poli-insaturado. Outros estudos devem ser realizados para esclarecer o papel da dieta isenta de glúten, o que pode diminuir a gravidade da doença em pacientes com anticorpos. A vitamina D tem sido uma opção terapêutica, devido a suas atividades imunorregulatórias e antiproliferativas.



REFERÊNCIAS

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10. Holick MF. Vitamin D: a millennium perspective. J Cell Biochem. 2003;88:296-307 [ Links ]


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Endereço para correspondência:
Maria Goretti P. de A. Burgos
Depto.Clínica Médica da Fac. Medicina da UFMG
Rua Baltazar Pereira, 70/601 - Boa Viagem
51011 550 - Recife - PE
Tel.: (81) 3325-3873
E-mail: gburgos@hotlink.com.br

Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 22.12.08.



Conflito de interesse: Nenhum
Suporte financeiro: Nenhum
Como citar este artigo/How to cite this article: Araujo MLD, Burgos MGPA, Moura ISC. Influências nutricionais na psoríase. An Bras Dermatol. 2009;84(1):90-2.
* Trabalho realizado no Serviço de Nutrição do Hospital das Clinicas (UFPE) - Recife (PE), Brasil.
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Aluno em atividade: Em duplas façam uma nota jornalística sobre o artigo científico acima.