segunda-feira, 15 de março de 2010

A Mariposa ninfomaníaca


por Eduardo Bessa, zoólogo na Universidade do Estado de Mato Grosso e especialista em comportamento animal.
ephestia_kuehniella_02.jpg
Naquela manhã no consultório psicanalítico
- Dra. não aguento mais me remoer de culpa.
- Culpa? - Disse a psicanalista.
- A verdade é que sou uma devassa, não só adoro sexo muitas e muitas vezes como meu negócio é variar sempre! Tendo a oportunidade escolho um novo rapaz a cada encontro. Não me contento com um só, não que isso seja da conta de ninguém. Mas sabe? Não deve ser certo, uma moça como eu. Esses mariposos machos. - A mariposa Ephestia kuehniella falava rápido, mal inflava suas traquéias entre uma frase e a outra.
- Mas isso não é bom, um monte de rapazes aos seus pés?
- Ah, Dra., você sabe como são os rapazes. Estão sempre à disposiçào de estar aos pés de quem lhes aceitar à cama! Para mim seria tudo muito natural se deixassem eu viver minha vida em paz. Se não ficassem me perguntando, falando por aí à boca miúda. Olha, Dra., a senhora nem imagina o que essasinhas dizem por aí, viu. Mas todos se metem tanto que acabo dando desculpas esfarrapadas.
- Desculpas esfarrapadas? - Com este novo eco Ephestia começava a procurar em qual das paredes do consultório escuro, mas aconchegante, estaria se refletindo o som.
- É. Digo que eles não largam do meu pé. Que me vencem pelo cansaço. Que dá tanto trabalho rejeitar as investidas de meus pretendentes que por fim cedo. Sabe, é isso que eu digo para as minhas amigas. As mais próximas, é claro, né. Também porque eu não fico por aí falando dessas coisas com qualquer uma. Já me bastam todas as que cuidam da minha vida sem eu precisar dar satisfações.
- Mas não é verdade. - A voz da Dra. deixou em suspenso se aquilo fora uma pergunta ou uma afirmação.
- É. Não. Mais ou menos. Olha, eles são sim insistentes, mas eu sei dizer "não" quando quero. Na verdade eu gosto do esporte, Dra. Me diga, eu sou normal?
- Por que você quer ser normal? Você se acha normal?
- Não! Nem um pouco. - Disse a mariposa com as antenas mais pinadas do que de costume.
- O que você acha que as outras meninas da sua espécie fazem em relação aos rapazes? - A analista se retraiu um pouco mais à sombra da luminária alta para a mariposa se sentir mais a sós.
- Não sei, ué. Isso não é coisa que se fique falando por aí. Você acha que elas também fazem... isso!?
- Olha, aqui no consultório passa muita gente, você sabe. Temos a ética profissional, mas acho que poderia lhe falar sobre alguns casos. Este hábito é muito comum para muitas fêmeas. Para algumas aranhas, por exemplo, variar de namorado significa ganhar mais alimento, na forma de presentes. Para as chimpanzés, significa que seus filhos serão melhor tolerados no bando. E, esquecendo as suas desculpas esfarrapadas, por que você procura novos amantes?
- Ai Dra., para te falar a verdade, não tem um só rapaz que eu diga: "esse é o tal", parece que serei eternamente uma aventureira em busca de diversidade. Ora, quem garante que o primeiro amante que for para meus lençóis será o príncipe encantado, aquele sem nenhuma doencinha familiar esperando há gerações para se manifestar justo nos meus filhos? Na verdade, isso que minhas colegas intrigueiras chamam de safadeza é como aumento a chance de sucesso dos meus filhos. Olha só, na semana passada um dos rapazes com quem saí era um verdadeiro gênio, o outro era o macho mais sarado e atlético que já vi, corpo de jogador de volei, o último por ter um rostinho de comercial de barbeador e lindos olhos compostos azuis. Convenhamos, achar um só com tudo de bom assim está difícil hoje em dia, né.
- E essa diversidade de tipos não é a diversidade genética que faria seus descendentes tão saudáveis, sua prole tão garantida? - Perguntou a Dra.
- Diversidade o que, Dra.? Perguntou a mariposa franzindo o escutelo.
- Nada não, teorias. Apenas teorias. Prossiga.
- Então, tenho mais é que diversificar, menina. Me distrair. Assim aumento as chances dos meus pimpolhos se darem bem na vida também, podendo nascer geniais, lindos ou fortões. Não sou interesseira, sou uma amante do amor livre de verdade. Só o que busco é diversidade. E que me deixem em paz!
- Pois deixe de se preocupar com as más línguas e vá curtir teus instintos. Nosso tempo acabou.

________________________
Xu, J., & Wang, Q. (2009). A polyandrous female moth discriminates against previous mates to gain genetic diversity Animal Behaviour, 78 (6), 1309-1315 DOI: 10.1016/j.anbehav.2009.09.028


Naquela manhã no consultório psicanalítico...
- Dra., sou um peixe muito tímido, não gosto de ficar nadando por aí aos cardumes. Meu negócio é o meu território, quieto e reservado. - Disse o peixinho que atendia pelo nome de Apistogramma hippolytae com seus olhos escuros e uma longa linha preta desde a cabeça até uma pinta na cauda.
- E isso te incomoda? - A voz era doce, mas vinha de algum ponto invisível, ligeiramente escuro atrás do divã.
- Não, de forma alguma. O que me incomoda é que vivem a me tirar sarro porque meus colegas de igarapé dizem que sou um transparente!
- Transparente? - Ecoou a analista.
- Não é que eu seja de fato transparente, antes o fosse. É justo o contrário! Sou transparente nas emoções, só de me olhar qualquer um já sabe o que se passa na minha alma. Se estou com preguiça todo mundo sabe, se me interesso por uma garota ou fico bravo com alguém já me dizem que está na cara.
- Entendo - prosseguiu a voz - Você é transparente porque é colorido.
- Isso! Quer dizer, não. Ah, Dra. não queria me expor tanto. Mas o que posso fazer? - Agora o peixinho, visivelmente irritado, tinha os olhos claros e listras verticais meio azuladas.
- E porque você muda de cor então? - disse a Dra. com sua voz mais suave.
- Ora, não mudo de propósito, simplesmente não posso fazer nada. É como se eu precisasse sair por aí alardeando meus sentimentos. Eu suponho que deixar claro para os outros o que sinto pode me ser útil de vez em quando.
- Como assim?
- Bom, se entro em um debate com outro peixe e de repente começo a me irritar, mudo de cor e ele logo percebe. Aí, se não quiser briga, ele pode parar de me encher e evitar levar umas bolachas. Assim ninguém se machuca, né. - disse o peixe, agora novamente mais pálido.
- E você é o único a mudar de cor? - Perguntou a Dra.
- Não, na verdade, sabe que adoro quando estou com uma garota e percebo que ela está toda listradinha de amor, piscando para mim seus olhinhos escuros. Me faz ter mais confiança de que o meu xaveco está colando. - O peixinho agora sorria com uma tonalidade amarelada com uma pinta na cauda, os olhos escuros continuados até o queixo em uma linha.
- Então essa história de mudar de cor não é assim tão ruim? - Perguntou também com um sorriso sensual a Dra.
- É, acho que não. Obrigado, Dra.
Rodrigues, R., Carvalho, L., Zuanon, J., & Del-Claro, K. (2009). Color changing and behavioral context in the Amazonian Dwarf Cichlid Apistogramma hippolytae (Perciformes) Neotropical Ichthyology, 7 (4) DOI: 10.1590/S1679-62252009000400013
peixe enrubesce
Tudo bem, enrubescer era só uma metáfora

________________________

Atividade:

Vamos analisar a linguagem utilizada nos textos "A mariposa ninfomaníaca" e "Peixe que enrubece" para verificar, conforme as dicas do Pequeno Manual de Divulgação Científica (Cássio Leite) e do livro Jornalismo Científico (Fabíola Oliveira), quais são os recursos utilizados pelo autor para deixar as fábulas científicas com as características necessárias à divulgação da ciência.

Em seguida, elabore um comentário com a sua análise - mostrando (anotando) as dicas dos livros e os trechos dos textos do Eduardo Bessa que ilustram os pontos destacados por Cássio Leite e Fabíola Oliveira - publique nos comentários deste post e guarde uma cópia no portfólio deste bimestre.

5 comentários:

Anônimo disse...

Análise do Texto Mariposa Ninfomaníaca

Levando em consideração as técnicas e recursos a serem observados na elaboração de um texto de divulgação científica , ao analisar o texto mariposa ninfomaníaca aonde o autor faz uma analogia do comportamento sexual da mariposa comparando a um comportamento ou conflito humano, observa-se uma didática por parte do texto tornando- o compreensível.

Introdução - o Início do texto desperta a curiosidade do leitor sendo que o título refere-se a um espécie animal com um vício sexual considerado humano.

(Título: “A Mariposa Ninfomaníaca” )

Humor- logo em seguida a mariposa está presente em uma consulta psicanalista, dando um teor humorístico ao texto .

(Início :” Naquela manhã no consultório psicanalítico
- Dra. não aguento mais me remoer de culpa.
- Culpa? - Disse a psicanalista.”)

Clareza - O texto cumpre com o papel de esclarecer as preferências sexuais das mariposas com descontração porém com seriedade especificando a espécie da mariposa.

(“A mariposa Ephestia kuehniella falava rápido, mal inflava suas traquéias entre uma frase e a outra.”)

Descontração- A metáfora ultilizada entre duas mariposas como uma paciente e uma psicanalista proporciona uma linguagem interessante ao leitor.

(“Então, tenho mais é que diversificar, menina. Me distrair. Assim aumento as chances dos meus pimpolhos se darem bem na vida também, podendo nascer geniais, lindos ou fortões. Não sou interesseira, sou uma amante do amor livre de verdade. Só o que busco é diversidade. E que me deixem em paz!”)

Rigor- Ao citar a espécie da mariposa o autor cumpre com a certeza das informações mas deixa a desejar quando não enfatiza em seguida em observação ou rodapé, que sua divulgação é relacionada ao esclarecimento de um artigo científico apesar de citar fontes.

Clichê – faz- se uso de clichê quando refere-se a gostar de sexo como um “esporte”.

“Olha, eles são sim insistentes, mas eu sei dizer "não" quando quero. Na verdade eu gosto do esporte.”



Paula Ferreira

Nélia Rodrigues disse...

Análise de texto baseado no livro do autor Cássio Leite Vieira

O peixe que enrubesce que significa tornar-se vermelho e enrubescer de vergonha.
A frase do inicio do texto que chama atenção para leitura. Lembra um pouco aqueles textos infantis, ou seja, fácil compreensão.

“Naquela manhã no consultório psicanalítico...” dá visualização para quem vai ler o texto.

Esta frase faz analogia com os seres humanos.
“Não, na verdade, sabe que adoro quando estou com uma garota e percebo que ela está toda listradinha de amor”
Ainda que alguns textos não possam possuir clichês, talvez por ser um texto divertido a palavra “xaveco” entrou de forma harmoniosa e divertida.

O autor representa as mudanças do peixe através de ilustrações.



Quanto à ilustração não possui legenda.

“enrubescer é uma metáfora.
Humor
“Aí, se não quiser briga, ele pode parar de me encher e evitar levar umas bolachas.”

Crédito

Rodrigues, R., Carvalho, L., Zuanon, J., & Del-Claro, K. (2009). Color changing and behavioral context in the Amazonian Dwarf Cichlid Apistogramma hippolytae (Perciformes) Neotropical Ichthyology, 7 (4) DOI:

Anônimo disse...

Análise de texto baseado no livro do autor Cássio Leite Vieira

O peixe que enrubesce que significa tornar-se vermelho e enrubescer de vergonha.
A frase do inicio do texto que chama atenção para leitura. Lembra um pouco aqueles textos infantis, ou seja, fácil compreensão.

“Naquela manhã no consultório psicanalítico...” dá visualização para quem vai ler o texto.

Esta frase faz analogia com os seres humanos.
“Não, na verdade, sabe que adoro quando estou com uma garota e percebo que ela está toda listradinha de amor”
Ainda que alguns textos não possam possuir clichês, talvez por ser um texto divertido a palavra “xaveco” entrou de forma harmoniosa e divertida.

O autor representa as mudanças do peixe através de ilustrações.



Quanto à ilustração não possui legenda.

“enrubescer é uma metáfora.
Humor
“Aí, se não quiser briga, ele pode parar de me encher e evitar levar umas bolachas.”

Crédito

Rodrigues, R., Carvalho, L., Zuanon, J., & Del-Claro, K. (2009). Color changing and behavioral context in the Amazonian Dwarf Cichlid Apistogramma hippolytae (Perciformes) Neotropical Ichthyology, 7 (4) DOI:

Nélia Rodrigues

Anônimo disse...

Analise do texto “A Mariposa Ninfomaníaca”

A começar com um bom título o texto prende a atenção de seu leitor e se desenvolve bem leve e bem humorado.
Cheio de analogias e descontração o autor explica o comportamento sexual da mariposa Ephestia kuehniella.

• Fisgar o leitor: “Naquela manhã no consultório psicanalítico”. Esse tipo de frase desperta a curiosidade do leitor.
• Título: “A Mariposa ninfomaníaca”. Com esse título tão irreverente o autor conseguiu chamar atenção para o seu texto.
• Analogia: “Não deve ser certo, uma moça como eu.” Nessa frase há uma analogia da mariposa com um ser humano.
• Humor: “A verdade é que sou uma devassa”. Com um texto mais solto e uma linguagem mais coloquial ele se torna bem humorado.
• Clichê: “Se não ficassem me perguntando, falando por aí à boca miúda”. Expressão popular.
• Rigor: “A mariposa Ephestia kuehniella”. Com rigor, mas de uma forma menos aprofundada, sem fazer uma necessária conexão direta com o artigo científico.
• Para quem escrevo: “O que você acha que as outras meninas da sua espécie fazem em relação aos rapazes?”. Com essa linguagem generalista o texto abrange todos os públicos facilitando sua compreensão.
Thiago Castro

Anônimo disse...

Analisando o texto “O peixe que enrubesce” dentro das dicas dadas por Cássio Leite Vieira, autor do livro “Pequeno Manual de DIVULGAÇÃO CIENTíFICA”

Já começa com um título bom, que chama à atenção.
O primeiro parágrafo com uma linguagem fácil, comum, divertida, consegue prender o leitor, e levá-lo a ler o texto todo. Não usa jargões e nem clichês. Conhece bem o público. Não usa fórmulas mirabolantes e ao mesmo tempo não subestima o leitor. É um texto leve e bem humorado.

O título “O peixe que enrubesce”: leva o leitor a imaginar um peixinho envergonhado, com a carinha toda vermelha.

Faz analogia com o ser humano: Me faz ter mais confiança de que o meu xaveco está colando.

Metáfora: Aí, se não quiser briga, ele pode parar de me encher e evitar levar umas bolachas.

O texto tem figuras que mostram a transformação do peixe mas não tem legenda.


Tem um pouco rigor: nome de Apistogramma hippolytae com seus olhos escuros e uma longa linha preta desde a cabeça até uma pinta na cauda.

- Agora o peixinho, visivelmente irritado, tinha os olhos claros e listras verticais meio azuladas.
O autor fala das transformações do peixe segundo seu estado emocional. Só que não traz dados científicos.

Rosi Fragoso